Um sinal...

Se em acreditasse em sinais, destino, horóscopo, esoterismo e todo esse tipo de coisa, diria que no primeiro dia deste ano, tive um sinal de como seria o resto dele - alternando momentos de confusão e solidão, sempre com muita paciência. O fato aconteceu na rodoviária de Joinville, entre às 17 horas do dia 1º e às 1h30 da madrugada do dia 2 de janeiro de 2010. Há pouco temp,o, eu havia começado a trabalhar no jornal A Notícia, como repórter. Era um serviço temporário, cobrindo as férias para outros jornalistas, mas eu encarava como a grande oportunidade na carreira, já que se tratava do maior jornal da cidade e havia chance de ser contratado. Confesso que achava um saco trabalhar nas férias e perder o verão, ainda mais porque precisava trabalhar com as pautas mais chatas da história do jornalismo. As coisas estavam ruins, mas poderiam ficar pior. E, logicamente, ficaram. Poucos dias antes do Natal, recebi duas notícias. A boa: "você está de folga no Natal". A ruim: "Você vai trabalhar na virada do ano".

Acabei cobrindo a ressaca pós-reveillon na praia da Enseada, em São Francisco do Sul, onde estava minha família, e voltei pra redação, em Joinville. Quando acabei o texto, às cinco da tarde daquela ensolara sexta-feira, minha editora disse: "Não tem pauta no final de semana. Pode ficar de folga". Era inacreditável. Por pouco não dei um beijo na editora. Iria encontrar minha namorada, minha família, meus amigos, naquela noite mesmo.

Doce ilusão. Havia uma rodoviária pela frente.

O jornal fica ao lado da rodoviária, e eu saí correndo para pegar o primeiro ônibus para São Francisco. Assim que cheguei, descobri que o próximo ônibus só partiria às 18h30. Tudo bem, até eu saber que o ônibus estava vindo de São Francisco e que o trânsito estava infernal naquele dia. Para o jornal eu não queria voltar, pois algo poderia acontecer e eu teria que cobrir. Minha casa ficava do outro lado da cidade, e eu não queria deixar a viagem para o outro dia. O jeito era esperar por ali mesmo, na esperança que a rodoviária fosse algo confortável pelas próximas horas. Eu não tinha a menor ideia de que horas o ônibus chegaria, e por isso não podia sair dali.

Quando temos que esperar, cada minuto demora uns dez para passar. Eu precisava fazer algo para não contá-los - os minutos. Nas primeiras horas de espera, havia distração. O fluxo era intenso. Curitiba, Porto Alegre, Blumenau... eu me perguntava porque aquelas pessoas estavam ali logo no primeiro dia do ano. Eu observava as despedidas, imaginando algumas histórias. Era uma boa distração, mas aumentava minha melâncolia. Não gosto de despedidas. E aquele não era o lugar certo, nem a hora certa. E à medida que a noite caia, o movimento pairava, as pessoas iam embora. O cimento branco ficava cada vez mais frio, gelava a alma.

Eu já havia xingado o prefeito, a mãe dele, o motorista, o trânsito, a minha vida, o dono do jornal e acho que só haviam passado umas três horas. Eu andava por tudo e não havia nada que pudesse fazer. Ia no banheiro o tempo todo, tomava água, subia a rampa, descia a escada. Liguei para o meu pai. Ele me pediu paciência. Eu xinguei. Liguei de novo. Pedi para me buscar. Ele disse que não dava, por causa que ia cair uma chuva muito forte. Eu só queria ver TV. Sei lá porque, não havia o que ler. Em algum momento chorei. Eu alternava entre raiva e tristeza. Comi coxinha, lá pelas onze horas. Eu tinha pouco dinheiro. Conversei com o dono do restaurante. Achei que tinha sido por muito tempo, mas foram apenas quinze minutos. Ele reclamou do governador, que fez a reforma da rodoviária e mudou os restaurantes para o andar de cima. Segundo ele, acabou com o negócio

Tentei dormir naqueles bancos de plástico duro. Foi impossível. Não há posição confortável. Certamente, para evitar mendigos. Era verão, mas tudo estava muito gelado. Lá pela meia noite, cansei de esperar. Voltei para o jornal e peguei uma carona com um editor que trabalha em São Francisco do Sul. Saímos às 3 horas.

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