Que ré!

Parece que andar pra frente deixou de ser tão lógico. Pelo menos pro grupo RIC. Começou, neste sábado, a nova campanha do veículo, cujo mote é "mostrar" que o usuário é o grande culpado - porque financia - o tráfico de drogas. Na minha opinião, trata-se de um grande retrocesso da nossa sociedade.

Assim que o editor do Notícias do Dia, Luís Meneghim, tornou pública a campanha, pelo twitter, comentei que podia ser algo perigoso. Ele me respondeu que pode ser polêmico, mas que o objetivo é justamente chamar a atenção pra este lado.

Acho, realmente, que é preciso ter consciência que uma das saídas é a conscientização, e que quem paga é realmente o usuário. Mas isso não é a coisa mais lógica do mundo? Quem paga pela Coca-Cola, pela Nike, pelo Mac Donalds? Que eu saiba, é o consumidor.

O problema dessa campanha é achar mais um culpado e desviar o foco do problema. As matérias do ND de hoje são recheadas de fontes oficiais - polícia, promotoria. O editorial defende que usuários usem roupas laranjas para serem constrangidos.

Será que realmente acreditam que isso funciona? Há constrangimento maior que roubar a mãe pra comprar pedra, que vagar na rua sendo apontado como pedreiro, maconheiro, cherador?

Quem já viu Tropa de Elite (eu vi umas 10 vezes, por baixo. Puta filme!*) vai reconhecer o discurso do Capitão Nascimento na campanha da RIC. E quando a gente tem a população pensando igual ao CN, pode ter certeza, estamos fodidos.

Aliás, já estamos fodidos há tempos. Viemos, enquanto sociedade, regredindo em diversos aspectos. Claro, avançamos em diversas áreas, mas o retrocesso em outras é muito evidente.

A RIC dá um baita tiro no pé com essa campanha. Os jornais, pra mim, não deveriam se meter em campanha. Aliás, o jornalismo deve ser uma continua campanha em defesa da justiça, da igualdade, do progresso (social)... Com isso campanha conservadora, o ND nos mete em encrenca e agrada grande parte da população que já está cega, que foi cegada por uma "educação" dos tempos de ditadura.

Vamos botar a boca no mundo, debater, fazer alguma coisa. Nunca usei drogas na minha vida, portanto, não estou legislando em causa própria (e não me importo nem um tico se você não acredita nisso). Assim como nunca fui gay e desfilei no bloco da diversidade e participei da parada gay, acredito que devemos participar sempre da luta por uma sociedade melhor.

*Tem que ser muito burro pra ter entendido Tropa de Elite como um filme de discurso conservador. Não perca seu tempo comentando sobre isso.

4 comentários:

  1. Eu ainda não tive acesso a campanha da RIC-RECORD. Então, vou direcionar a minha opinião aos comentários do Felipe, esse blogueiro que gosta de discutir. eu adoro discordar das suas considerações.

    Fora a brincadeira, vou ao fato.

    O que estamos tratando como drogas? Tudo foi posto no mesmo balaio (cocaína, crack, maconha, lsd e afins?) É preciso tratar cada coisinha de acordo com suas especificidades. Por exemplo, a maconha não é uma droga. Apesar da sua ilegalidade perante as leis do Estado, inclusive as leis morais. No caso da maconha ocorreu toda uma construção histórica para a sua criminalização. Porém, não posso deixar de considerar que a maconha, dentro da ilegalidade, tem uma contribuição para os mais diferentes problemas sociais contemporâneo.

    Quando abordo drogas ilegais estou fazendo referência a cocaína, ao crack e inclusive ao lsd e suas variantes. As vejo como um problema muito mais profundo, cujo a utilização entra e gera conflitos nas mais diferentes vidas, potencializando o isolamento, a violência e perda do “bom senso”. “Bom senso” é difícil de definir, mas tente entender como respeito ao próximo e a valorização do amor acima de tudo. Falo disso por conta de experiências desde adolescência, quando amigos se afastaram, inclusive a morte tiveram acesso antes do esperado. (é possível premeditar a morte? Acredito que não, mas cocaína e crack são excelentes aceleradores)

    Sinceramente, o direito de usar cocaína ou crack é direito que entendo como limitador da liberdade, já que percebo a liberdade individual ligada a liberdade coletiva, logo a cocaína e o crack são mais limitadores da liberdade coletivo, do que qualquer outra coisa. Já a maconha, ainda tratada como droga, precisa passar por um processo de conquista social e política. Mas claro, longe da relação capitalista, falo numa perspectiva de pensar a maconha no campo da agroecologia e afins.

    ...

    O jornalismo policial joinvilense é complicado, lembro de poucas abordagens que foram além das fontes oficialescas, já citadas pelo Felipe. Isto é um erro! Já que seria de grande contribuição pública buscar outras fontes, quem sabe os próprios consumidores das tais drogas e quem trabalha diretamente com o tema, além da polícia e da promotoria. Mas aí, esperar da comunicação privada um senso mais apurado pra questões pública já demais, o que movimento o jornalismo privado é o dinheiro. Quem sabe seja por aí o apelo "moralista"* da campanha.


    *Ao menos é o que percebi nas considerações do Felipe.

    Maikon K
    www.vivonacidade.blogspot.com

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  2. Não conheço o Felps e não tenho costume de postar comentários em blogues. Mas conheço o Maikon e vou entrar na polêmica com um ponto de vista do marxismo "ortodoxo" só para provocar. hoho.


    O autor aponta que a matéria do jornal desvia a foco do problema. Porém, o mesmo não aponto qual é o problema e seu respectivo foco.
    A crítica quanto à abordagem da questão das drogas sobre bases "morais" e "individuais" é correta, mas devemos avançar.
    Devemos debater as drogas sobre bases políticas, partindo da análise de seu papel social e da sua função do ponto de vista da luta de classes.
    Nesse sentido, é primordial nessa análise buscar desvendar a importância da economia da droga para o capitalismo.
    O que vemos é que a economia da droga é parasitária, não contribui para melhorar as condições de vida das populações e arruína o componente decisivo das forças produtivas: o trabalhador. A economia da droga é uma força destrutiva pois destrói a força de trabalho se alimentando do desemprego, da desindustrialização, e da narco-reciclagem das economias agrárias.
    A droga significa a destruição física e moral demilhões de jovens trabalhadores tomando formas de verdadeirogenocídio em alguns casos, como nos guetos negros da América (ver Filme "Panteras Negras"). É uma manifestação da destruição das formas produtivas - da força de trabalho, e neste caso - característica do Imperialismo agudizada na era da "globalização". A luta contra a droga é parte da luta da classe trabalhadora contra a sua própria destruição. Invocar o direito a liberdade individual de consumo para defender a legalização das drogas é uma afronta a inteligência, como invocar o direito a liberdade de trabalho:liberdade de ser explorado ... ou morrer de fome. Evidentemente, distinguimos entre o criminoso e a vítima. O consumidor de drogas não pode ser perseguido pela lei capitalista e o dependente de drogas é um enfermo que tem direito a tratamento. A luta contra a droga é uma luta contra o capitalismo, pela expropriação dos capitalistas, o confisco dos lucros obtidos no comércio de drogas, especulação e lavagem de dinheiro.

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  3. Ops, olha só, esqueci de assinar o comentário acima.

    Mario Roberto
    http://twitter.com/marioroberto

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  4. Felps,

    Vou perder meu tempo.. eheh
    mas você reconhece que é um problema a população pensando como o Capitão Nascimento... Quando o filme foi acusado de conservador, foi a direita e a mídia que saiu em defesa do filme?

    Como você afirmar e considera burro os que acham esse filme conservador?

    Lembrando que, os motivos que levaram Tropa de Elite ser um filme conservador, é porque se trata de uma narrativa, centrada em um herói, onde o diretor opta por conduzir o filme do seu ponto de vista... Assim o espectador se identifica com filme, isso pode ser teoria... mas se temos tanta gente batendo palma para as torturas no filme, tanta gente (como vc disse) pensando como o CN... é resultado de uma escolha cinematográfica.

    Na minha opinião, a organização do filme, da experiencia cinematográfica... criam uma identificação com os conceitos do herói. Nesse caso, justamente, porque se escolheu o herói como foco, sem distanciamento.

    Sem que muitos não consideram o filme conservador, eu considero. Mas o que não entendi é porque você não considera já que acha ruim boa parte da população aprovar o CN e as ações do BOP. Se essa aprovação é um fato... acho que a discussão em torno do filme, deve ir além da temática, e pensarmos porque o filme resulta nisso?

    bruno bello

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