O número

No outono de 2006, Rodrigo descobriu uma mina de ouro: vender cerveja na praia. Decidiu investir no negócio e, para isso, anotou num bloquinho, que chama de "memória externa", o seguinte: "daqui a seis meses, vender cerva na praia". Assim que anotou, lembrou que há tempos não olhava aquele papel no qual armazenava as grandes ideias, aquela com potencial para mudar o rumo da humanidade, deixá-lo rico, ou, ao menos, render uma boa piada.

O papel estava sujo, de uma vez que derrubara café com leite. Ficou com vergonha de algumas ideias, descobriu porque desistira de outras, ficou com saudade do tempo que pensava seriamente noutra. Ele folheava e rememorava, revivia na mente o passado e as sensações. Então, Rodrigo viu um número de telefone. Não tinha nome nem nada que sugerisse qualquer reconhecimento. Ficou com vontade de ligar, que logo passou, assim que uma plaquinha importante do MSN apareceu no monitor.

No outro dia, quando chegou do trabalho, achou a "memória externa" em cima da mesa do computador. Agora o número o encarava, e ele encarava o número. Fez mais um esforço para lembrar como ele apareceu ali. Nada. Resolveu, então, ligar. Algo dizia que era o número da Laís, a garota que conheceu numa festa de desconhecidos, por quem se apaixonou e nunca mais viu. Era algo possível, pois tinha certeza de ter pego o número. À época ficou muito bravo por perder o contato. Tentou orkut, msn, contato com pessoas da festa e até deixou um tópico numa comunidade em que ela disse participar. Esqueceu algumas semanas depois, mas agora tinha a nítida impressão de que seria ela. Atenderam o telefone:

- Oi... alô...
- Alô! - atendeu uma voz feminina, o que era um bom sinal.
- Oi, então, achei esse número num papel aqui em casa e liguei pra conferir. Hehe, não sei bem como fazer isso, mas meu nome é Rodrigo, será que você me conhece?
- Hum... acho que não.
- Hum... bom... então deve ser engano, né...
- Sem problema.
- Desculpa perguntar, mas tem alguma Laís aí?
- Não tem, não, moço.
- Então tá bom. Me desculpe, tá?
- Sem problema. Tchau.
- Tchau.

Desligou sem se importar, como as pessoas ficam quando percebem que pensaram em algo um tanto sem nexo. Amassou o papel e jogou no lixo. Lá do outro lado daquele linha, existiu outro diálogo:

- Quem era, Laís?
- Engano, mãe.

Um comentário:

  1. E quem era a pessoa do número discado?
    hahaha!
    Em que praia Rodrigo quer vender cerveja? Se for na dos Ingleses, eu quero vender sanduiches. Poderíamos formar uma dupla no verão eheheh.
    Bjos.

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