Derrotas

Nada ensina mais na vida do que as derrotas. E elas ensinam porque se tornam lembranças sempre presentes. Confesso que tive poucas derrotas na vida. Tive poucas vitórias também. Devo ter tido poucas brigas. Mas as derrotas que tive me ensinam muito, ensinam constantemente a evitar o erro.

Vou contar a história de uma delas pra exemplificar mais ou menos o que quero dizer. Lá no começo da faculdade, em 2006 ou 2007, a sensação do momento era o Orkut. A minha turma tinha uma comunidade muito ativa e eu era um dos mais presentes, falava, como ainda falo, demais. Certa feita, numa discussão, eu fiquei chateado com um professor pelo qual eu tenho o maior respeito, Silnei Soares. Cheguei em casa e fiz um tópico, dirigido a ele, no qual escrevi um monte de merda. Me sentindo, claro, na razão.

Pouco tempo depois, o professor respondeu. Argumentou o que tinha que argumentar, mas respondeu da mesma maneira que eu o tratei. No final, deu o golpe final, dizendo que o respeito que ele tinha por mim como aluno e como pessoa acabara ali.

E eu não esqueço e nunca vou esquecer daquele final. Da briga, na verdade, eu não lembro. Mesmo depois disso, eu achei que tinha razões em partes. Eu só não tinha razão de ter sido grosseiro e ofensivo da maneira que eu fui. E isso me ensinou sempre a me policiar antes de falar e escrever. Às vezes, a gente opta por falar algo mais arriscado mesmo, mas, com certeza eu nunca mais fiz isso sem a consciência do risco.

As derrotas ensinam porque elas revelam o caráter o próprio caráter pra cada um. Naquela ocasião eu percebi que era um idiota. E é só por isso que a derrota machuca. Não tem nada a ver com o outro. A derrota machuca pela percepção da própria fraqueza.

Hoje eu estou tendo um dia difícil. Talvez nunca tenha me sentido tão derrotado como hoje. Amanhã vai passar. Talvez à noite eu já tenha esquecido. Mas, inevitavelmente, e isso é bom que aconteça, a lembrança vai voltar. Hoje eu percebi que não sou daquelas pessoas que nunca desistem. Sei lá, talvez nem brasileiro eu seja.

Desisti, hoje, de uma das coisas mais importantes da minha vida. Inclusive, era a prioridade do ano. Faltou força pra enfrentar tudo e todos, ainda mais quando você acha que é um guerreiro. O ano foi repleto de dificuldades, decepções, obstáculos, rés... eu poderia listar aqui uns trocentos motivos que me levaram a desistir. Mas essa não é a lembrança que vai ficar desta situação. E o que importa é o que fica.

Por outro lado, tenho uma característica que nem sei se é boa ou ruim. Eu sempre toco meu próprio barco, sem ligar muito para o que vão falar. Eu vivo caindo, mas nada me impede, nunca, de levantar e continuar. Já estou aqui, tentando de novo. Bola pra frente.

3 comentários:

  1. A derrota é a vitória do aprendizado e reflexão, bola pra frente sempre, o importante voce já faz, tocar o seu barco, as outras coisas, os outros, são resto.

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  2. Difícil só ler e já não conviver. Nem por isso deixo de sentir. Gostaria de se não guiar ao menos compartilhar suas correntes marítimas - sei que vai sempre longe. Mas, já não depende de mim e o tempo é sempre influenciador.

    De um jeito ou de outro, acredito em você e em ventos melhores.

    Beijos,
    Ana.

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  3. Estamos juntos remando contra o mar revolto. É preciso enfrentá-lo agora, para encontrarmos nosso porto seguro lá adiante. Ou logo ali. Quem sabe? Vamos ancorar um pouco e descansar. Podemos recomeçar amanhã ou depois. O tempo não para, mas também não mata nossos sonhos.

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