Renê

Renê odiava o próprio nome. Atribuía a ele seus problemas, principalmente os de relacionamento. "Como vou me apresentar a uma menina com esse nome?!", indignava-se. Nunca se dera bem com os pais, aos quais culpava. "Eu te odeio, mãe!! Como você teve coragem de fazer isso com uma criança!", gritava, dedo em riste, com o qual apontava à mãe, apontava para cima e para a mãe de novo, como marteladas. "Mas é um nome tão bonito, meu filho", justificava-se a mãe. "Pelo amor de Deus, Aderbal é bonito perto dessa coisa horrorosa!!", respondia, quase sempre aos prantos. "Calma, Renezinho", acalentava a mãe, fazendo-o sofrer mais. Com o pai não falava desde os doze anos, quando tiveram uma discussão feia sobre qualquer coisa. Não importava o motivo. Podia ser porque o homem comprou Cebolitos ao invés de Doritos, seu favorito. Importava somente que ele conseguiu botar o ódio para fora.

Renê, no entanto, só gritava em casa. No mundo lá fora era tímido, tímido. Nao abria a boca na aula, mesmo morrendo de vergonha à hora da chamada, quando seu nome era dito perante todos, em voz alta, e a ele sobrava erguer o braço para se identificar. Uma vez pediu a um professor para chamá-lo pelo sobrenome. O homem perguntou o motivo e Renê nada conseguiu responder. Também nunca beijara ninguém, exceto uma tia mais velha e muito louca que foi desafiada no "Verdade ou Consequência". Foi uma experiência assustadora. Renê não conseguia conversar com ninguém, nem para jogar bola na rua, onde todos sabiam seu nome. Um dia Hanna, uma menina bonita do segundo ano do ensino médio (ele estava no primeiro), lhe pediu um pedaço de coxinha. Ela mordeu, sorriu - aí já era tarde demais -, e disse: "Obrigado... como é seu nome?"

"Re... re... nê", conseguiu responder, encantado pelo sorriso. Naquele momento percebeu que faria tudo que aquela mulher quisesse.

"Muito obrigado, Rerenê", ela disse, e disse sorrindo, o que aumentou o feitiço.

Renê nunca mais se importou com o nome.

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